Após quatro anos com o número
de registros envolvendo o desaparecimento de crianças em queda, o Paraná voltou
a registrar em 2022 uma alta no número de boletins de ocorrência (BOs) dando
conta desse tipo de situação. Segundo dados do Serviço de Investigação de
Crianças Desaparecidas (Sicride), no ano passado uma criança desapareceu no
estado a cada dois dias, em média. Na comparação com o ano anterior, houve alta
de 14,5% no total de ocorrências.
No ano passado um total de 182 boletins foram registrados no estado. Nos dois
anos anteriores, em 2021 e 2020, haviam sido confeccionados 159 e 163 BOs. Esse
aumento, contudo, já era algo esperado, explica Patrícia Conceição Nobre Paz,
delegada titular do Sicride, ressaltando ainda que as ocorrências seguem abaixo
do patamar da pré-pandemia – em 2019 e 2018, por exemplo, haviam ocorrido 224 e
237 situações de desaparecimento, respectivamente.
“A gente já esperava um aumento nas ocorrências. Durante os anos da pandemia, o
que aconteceu é que os pais ficaram mais em casa e muitos dos nossos casos de
desaparecimentos envolvem essa situação de a criança estar sozinha, então
realmente já era esperado que tivesse esse pequeno aumento de ocorrências. Mas
o importante é que todos os casos foram resolvidos e não tivemos aí nenhuma
situação de desaparecimento que perdurou. Nesses primeiros meses de 2023,
nossos números também têm sido positivos”, comenta.
Ainda segundo a delegada, os mais variados tipos de situações chegam até à
delegacia, desde ocorrência resolvidas logo em seguida, por se tratarem mais de
uma falta de comunicação do que um desaparecimento propriamente dito, até casos
de fuga, que não raro estão relacionados a algum tipo de crime do qual essa
criança pode estar sendo vítima dentro de casa (como situações de violência
doméstica). Desde o ano passado, contudo, o Sicride vem dando uma atenção
especial aos casos que envolvem a internet.
“A gente tem tido uma atenção maior com os casos de crianças que já têm acesso
à rede mundial de computadores, aos aplicativos de conversa, e que acabam
conhecendo pessoas nesses aplicativos e acabam sendo persuadidas a sair de
casa. Já temos boletins nesse sentido e é um situação preocupante, porque
muitos criminosos, muitos pedófilos se aproveitam desse ambiente virtual. Às
vezes, até se apresentam inicialmente também como adolescentes para poder
conquistar essa criança. Isso é algo que demanda uma atenção especial dos pais
e responsáveis”, alerta.
A solução para o problema, ressalta ainda a delegada, não está em impedir,
desesperadamente, que as crianças utilizem o computador ou a internet, até
porque isso poderia gerar uma situação ainda pior, na qual esse jovem utiliza
esses dispositivos escondido. “O essencial é a conversa, sempre buscar
orientações, saber o melhor modo de abordar cada assunto para que a criança
confie em você e possa te contar o que acontece. Sabemos, também, que mesmo com
todo o zelo as vezes pode acontecer do jovem estar fazendo algo escondido, mas
normalmente eles vão dar algum sinal, algum indicativo. Às vezes uma angústia,
às vezes uma ansiedade. Então procure ali, no dia a dia, sempre estar atento a
qualquer situação nesse sentido. E sempre lembrando que a Polícia Civil, as
nossas delegacias, estão sempre à disposição para atender, para dar uma
orientação, e qualquer dúvida que os familiares tenham”.
‘O mais importante é o registro da ocorrência’
Em diversas situações de desaparecimento de criança, explica a delegada,
a situação é resolvida logo em seguida, porque na verdade não se tratava
realmente de um desaparecimento. Ainda assim, ela destaca a importância dos
responsáveis registrarem um boletim de ocorrência notificando o possível
desaparecimento às autoridades tão logo notem que há algo fora do comum.
“Principalmente quando a gente fala de crianças e adolescentes, é importante
que os familiares responsáves tenham em mente que não há necessidade de se
esperar um prazo de 24 horas para registrar o desaparecimento. Na verdade, a
nossa orientação é justamente contrária a essa, para que registrem a ocorrência
tão logo tomem conhecimento de alguma situação anormal. Se o seu filho tem uma
certa rotina, não voltou para casa, não está atendendo o telefone, registre a
ocorrência. A gente faz uma primeira investigação e, caso ele reapareça, só
damos baixa no BO, não há problema nenhum quanto a isso. Mas um registro tardio
dificulta e muito as investigações”, explica a policial.
Outra orientação importante é sobre as informações fundamentais a serem levadas
para as autoridades na hora de registrar o BO – que pode ser feito online ou em
qualquer delegacia (ou seja, não precisa ser feito no Sicride, uma vez que a
ocorrência, sendo registrada, a delegacia já recebe automaticamente o
registro). “É importante a família tentar levantar todas as informações
possíveis, a fotografia mais recente dessa criança. Se conseguir imagens de
como essa criança estava antes de desaparecer, para onde ela foi, o que ela
levou…
Hoje em dia, quase todas as crianças também têm aparelho celular. Nós temos
ritos próprios de investigação que possibilitam acessar as redes sociais dessas
crianças, mas se os pais souberem as senhas, quais as redes sociais que essa
criança utiliza, por exemplo, é algo que ajuda.”
Vinte e seis crianças estão desaparecidas há anos no estado
Atualmente, o Paraná soma 26 crianças que estão desaparecidas há anos. O
último caso desses desaparecimentos duradouros foi registrado em 2017. “Então
nós tivemos aí alguns anos com números exitosos e esperamos que assim
continue”, comenta a delegada do Sicride, Patrícia Paz. A lista de crianças,
adolescentes e adultos desaparecidos no estado pode ser conferida no site
www.desaparecidos.pr.gov.br/desaparecidos/.
Para que esse tipo de situação não volte a se repetir no estado, algumas
orientações aos pais são importantes. Por exemplo, quando falamos de crianças
com até cinco anos de idade, é importante que os pais tenham atenção redobrada,
mantém um olhar atento mesmo, para não perder esse menor de vista. “A gente tem
casos aqui que, infelizmente, acabam vindo a chegar a um óbito. Situações em
que a criança está brincando e cai num rio, está na praia e vai sozinha pro
mar… Num piscar de olhos, pode acontecer um acidente”, aponta a delegada.
Já quando se trata de crianças um pouco maiores, que já tem uma certa liberdade
– tanto para acessar a internet como para se locomover sozinha -, a orientação
é para que os pais estejam atentos aos sinais de alerta. “As redes sociais, por
exemplo, têm de ser monitoradas”.
“Os pais têm de estar consultando, monitorando quem são os amigos, qual a
rotina dessa criança, se ela está muito reclusa e perceber se essa criança está
escondendo muito as coisas. Tem que haver uma relação de confiança, para saber
com quem ela está se relacionando para que se possa evitar aí situações envolvendo
pedófilos e outros criminosos.”
INFORMAÇÕES: bemparana.com.br